Por Roseli Rossi
Até os quarenta anos, a assistente financeira Maria Inês Castro se orgulhava de manter o mesmo peso que tinha ao se casar, aos 23 anos: 52 kg. Nos anos seguintes, porém, o ponteiro da balança teimava em subir. E, aos 45, quando Maria Inês entrou no climatério, ele disparou de vez. Para piorar, os novos quilos se concentraram na barriga.”Emagrecer era superdifícil”, diz ela, hoje com 54 anos.
Com algumas variações, essa história se repete diariamente em consultas a nutricionistas e em clínicas endocrinológicas. As pacientes contam que mantêm a mesma alimentação, os mesmos exercícios e, ainda assim, engordam. Por quê?
A resposta passa por alterações hormonais, queda do metabolismo, diminuição do sono e estresse, entre outros fatores.
Some-se a isso a adoção de hábitos nada saudáveis. “Na juventude, as pessoas usam transporte público, têm mais tempo livre e fazem mais exercícios. Depois, muitas adotam um estilo de vida que dificulta a perda de peso”, ressalta Márcio Mancini, médico do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo) e presidente eleito da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).
A boa notícia: dá para se preparar para a nova fase, assim como reverter as mudanças na silhueta. Não se trata só de estética, mas de saúde.
Mulheres que ganharam dez quilos ou mais após a menopausa tinham 18% mais chance de desenvolver câncer de mama, segundo estudo divulgado ano passado no “JAMA” (publicação da Sociedade Americana de Medicina).
Já quem perdeu dez quilos ou mais após a menopausa e nunca fez reposição hormonal tinha 57% menos chance de ter esse tipo de tumor do que quem manteve o peso.
Metabolismo e hormônios
Tanto homens quanto mulheres vivenciam a queda da taxa metabólica ao envelhecer. Isso significa que o corpo gasta menos energia para se manter funcionando aos 40 anos do que aos 20, por exemplo. “Até os 30, tudo era fácil.
Eu podia comer besteira que queimava rapidinho–depois o metabolismo fica devagar. Sempre me exercitei, mas, para ter resultado agora, tem de ser mais intenso”, conta a dona-de-casa Denise Olivetto, 43.
Uma desvantagem para as mulheres é que elas têm, naturalmente, menos massa magra (músculos, ossos e vísceras, que queimam muita energia) e mais tecido adiposo.
A sorte delas é que o estrogênio estimula o acúmulo de gordura nos quadris, dando-lhes o formato de ampulheta. Já a testosterona (hormônio masculino) leva os homens a depositarem gordura na região abdominal a famosa “barriga de chope”, perigosa para a saúde.
Mas, por volta dos 45 anos, elas perdem essa vantagem: com a diminuição dos níveis de estrogênio, a proporção da testosterona no organismo feminino sobe. O resultado é o surgimento da gordura abdominal.
Extremamente prejudicial, ela eleva o risco de doenças cardiovasculares, de hipertensão e de diabetes, explica o endocrinologista Sérgio Braga, diretor médico do spa Salute Bahia.
O tecido adiposo participa ativamente da regulação hormonal e, quando localizado no abdômen, age de forma diferente, afirma Mancini.
Entre as substâncias fabricadas pela gordura abdominal, estão duas com ação inflamatória: a IL-6 e o TNF-alfa. Em alta concentração, elas levam a uma inflamação crônica dos vasos sangüíneos –o que pode levar à arteriosclerose–e aumentam a resistência à insulina -a porta de entrada para o diabetes. Outras proteínas ligadas à gordura visceral
são a PAI-1, que leva à formação de coágulos no sangue, e a angiotensina-II, que causa hipertensão.
A gordura abdominal também produz uma substância benéfica: a adiponectina, que é antiinflamatória e aumenta a sensibilidade à insulina. Mas, quando há excesso de gordura corporal, a produção de adiponectina cai, deixando o organismo mais suscetível a complicações, diz o endocrinologista Bruno Geloneze, da Abeso.
A pedagoga Eleni Gorgueira, 47, conhece de perto esses riscos. Sua família tem tendência a engordar, afirma.
Atualmente, sua mãe tem diabetes e suas duas irmãs, hipertensão. Ela mesma, ao ganhar alguns quilos, fica com a pressão mais alta. “Ainda não entrei no climatério, mas já percebi que o metabolismo desacelerou”, diz.
Felizmente, a gordura visceral é mais fácil de “queimar”: quem perder 10% de gordura corporal provavelmente perderá 30% da gordura presente no tórax, compara Geloneze.
“É mais simples perder a gordura da barriga do que a das coxas”, afirma Mancini. Esse, diz, é um dos motivos pelos quais os homens emagrecem mais rapidamente do que as mulheres.
Desânimo
Mas, para queimar a gordura, é preciso comer menos e se exercitar mais –algo nem sempre fácil para mulheres em meio a um turbilhão emocional. “Dos 41 aos 55 anos, as mulheres passam por uma transição hormonal, e algumas podem ser mais vulneráveis a essa fase”, afirma o psiquiatra Joel Rennó Jr., coordenador do Pró-Mulher (Projeto de Atenção à Saúde Mental da Mulher, do Hospital das Clínicas da USP).
Isso inclui sintomas ansiosos e depressivos, que podem interferir no peso. Foi o que aconteceu com a secretária Regina Laplaca, 58, quando ela entrou na menopausa, há cinco anos. “Devido à variação hormonal, fiquei tão deprimida que parei as minhas caminhadas”, conta.
Além disso, nessa fase muitas mulheres enfrentam mudanças na relação com os filhos, que chegam à adolescência, e vivem uma fase profissional estressante, ressalta o psiquiatra. Esse estresse também influi no peso: ele libera o cortisol, que afeta o metabolismo e leva à resistência à insulina.
Outro fator importante é o sono. É comum ter insônia nos primeiros cinco anos de menopausa e, no climatério, os “calores” impedem muita gente de dormir, afirma o ginecologista Ivaldo Silva, um dos coordenadores da Casa do Climatério, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Após uma noite em claro, é difícil querer se exercitar, mas essa não é a única conseqüência. “Quem dorme menos engorda mais”, diz a neurologista Dalva Poyares, do Instituto do Sono, da Unifesp. Uma das hipóteses para isso, diz, é que durante o sono o corpo libera o hormônio do crescimento, que tem efeito anabolizante (aumenta a massa muscular, melhorando o metabolismo).
Além disso, diz Geloneze, da Abeso, a falta de sono também libera cortisol e interfere em hormônios como a grelina (hormônio da fome) e a leptina (hormônio da saciedade).
As mudanças dessa faixa etária também podem ser acompanhadas por uma doença: o hipotireoidismo. O problema costuma afetar mulheres e surgir após os 40 anos. No Brasil, suspeita-se que parte dos casos esteja ligada ao excesso de iodo no sal entre 1998 e 2003.
O hipotireoidismo é associado à piora da hipertensão, ao aumento da glicemia e à fraqueza muscular. Ele também diminui o metabolismo. O problema é irreversível, mas pode ser tratado com reposição hormonal específica.
Na ausência de doença, a melhor estratégia para manter o peso é adotar hábitos saudáveis o quanto antes. “Quem tem tendência a doenças crônicas deve se cuidar o mais cedo possível. Antes da menopausa, os resultados são mais rápidos”, diz a nutricionista Lucyanna Kalluf, membro científico do CBNF (Centro Brasileiro de Nutrição Funcional).
A receita não é complicada, diz Mancini. “Quem se alimentar de forma saudável, não ceder ao marketing de alimentos industrializados e reservar tempo para a atividade física dificilmente terá problemas.”
Foi o que fez a farmacêutica Maria Inês. Após engordar, ela deu início a uma dieta e perdeu quatro quilos em um mês. “Emagreci justamente na região abdominal. Agora, penso em começar a pular corda, que é barato e eficiente.”
Roseli Rossi é colunista do Mulheres de Quarenta. Nutricionista formada pelas Faculdades Integradas São Camilo (CRN 2084 /1983), com título de Especialista em Nutrição Clínica concedido pela ASBRAN – Associação Brasileira de Nutrição. Pós Graduada nos cursos de especialização de Planejamento, Organização e Administração de Serviços de Alimentação; Fitoterapia Aplicada à Nutrição Funcional e Nutrição Ortomolecular com Extensão em Nutrigenômica. É Diretora da Clínica Equilíbrio Nutricional e autora dos Livros: “Saúde & Sabor com Equilíbrio” – Receitas Infantis, “Saúde & Sabor com Equilíbrio” – Receitas Diet e Light Volumes I e II, Colaboradora do livro Nutrição Esportiva – Aspectos relacionados à suplementação nutricional e autora do Livro “As Melhores Receitas Light da Clínica Personal Diet”.