Quando os pais partem cedo: o olhar da Constelação Familiar

“(Sentimos) muito medo (da morte). Isso tem a ver com o fato de que a vida é vista isoladamente, como um bem pessoal, do qual eu cuido e aproveito tanto quanto for possível. Mas também posso ver isso de maneira oposta, como se a vida me tomasse como propriedade dela. Ou como uma força que me traz à vida, me sustenta e finalmente me deixa cair. Essa visão parece-me muito mais próxima da realidade. Quando a pessoa se submete ao todo, ela sente algo parecido com uma força que a sustenta. Mas é uma força que também traz sofrimento. O movimento que faz o mundo girar não é a nossa felicidade, mas algo muito diferente. Para tanto fomos chamados à serviço. A isso temos que nos submeter. No fim, deixamos a vida para voltar a algo sobre o qual nada sabemos. Tampouco chegamos aqui vindo do nada. Chegamos através dos nossos pais. Neles conflui algo que nos dá vida e que está integrado a algo maior.”

Bert Hellinger, no livro “Constelações Familiares – O reconhecimento das Ordens do amor

Três em um

Precisamos separar duas partes de nós para talvez compreender melhor este artigo. Existe o “eu” individual. E existe um filho. Os dois, misturados em um mesmo corpo. Para ambos, a perda de um pai e uma mãe é algo profundo. Mas nestas duas partes, um filho é o que sofre mais.

Somos todos “filhos”. Essa é uma condição que todos, sem exceção, recebem. Alguns se tornarão pai, mãe, marido, esposa… talvez. Mas, o papel de filho, este sim, está reservado a todos. E para que haja um filho, é obrigatório que haja um pai e uma mãe. Não importa a forma da concepção, em algum lugar aquele filho tem um pai e uma mãe.

Então esses três, unidos pelo vínculo mais profundo de todos, se tornam referências entre si. O papel do homem, junto com uma mulher, abrem espaço para um terceiro papel: o de pai e mãe. O filho, que veio através deles, também se percebe na vida pelo lugar que ocupa em relação a esses dois, seus pais. E num primeiro momento a vida segue assim.

A falta

Então algo acontece a esse pai ou a essa mãe, e um deles parte. O filho, pequeno, se encontra sem um de seus referenciais. Ou os dois. E isso, para ele, é uma informação que chega de forma forte, para muito além do que seria possível digerir.

Uma criança pode sentir isso em seu interior como um abandono. Crescer com raiva de seu pai ou sua mãe por tê-la deixado. Não é uma decisão. É o que ela sente em seu corpo.

Olhar para o lugar dos pais e encontrar um desses espaços vazio é demais para os pequenos. A raiva (a face birrenta do amor) surge como uma alternativa para se lidar com a falta. E também uma forma de permanecer conectado. Isto é tudo o que o filho deseja.

O tempo

A medida que o tempo passa, é necessário a este filho conseguir olhar de outra forma para seu pouco tempo com seus pais. É necessário aceitar o que aconteceu e olhar para o essencial: a vida chegou. O pai e a mãe, ainda que não mais presentes, passaram o que tinham de melhor.

O filho sentirá a falta, sem dúvida. Viver a partida dos pais, em nenhum momento, é algo fácil. A cada atendimento percebemos como os pais são importantes na vida dos filhos, não importa como eles sejam. São importantes simplesmente por serem pais. O simples fato do vínculo que se forma entre um homem e uma mulher e o fruto do seu relacionamento já transforma estes dois no lugar mais seguro para o filho. E os filhos sabem disso intimamente, e por isso o momento da despedida é tão difícil.

Um novo lugar

O processo da perda pede que seja possível trazer os pais para um novo lugar. Se sentimos falta da presença física, da conversa, do afeto e do amor, talvez podemos trazê-los para perto de nós, em nosso coração. Fazemos isso ao buscar meios de cultivar a gratidão ao que eles nos passaram. Em um sentido mais profundo, reconhecemos que, embora não tenhamos tido a presença, sempre seremos parte de um vínculo muito forte e insubstituível.

Na trinca meu pai, minha mãe e eu, há sempre um lugar onde nós três podemos nos encontrar.

Isso porque cada um conserva em si seu pai e sua mãe. O que o compõe veio deles, que nos passaram muitas coisas. Ainda que isso não supra a falta física, um coração preenchido de pais torna a ausência deles muito mais leve. A saudade não dói tanto, o olhar se direciona para frente e a vida segue seu caminho.

Genésio Lopes: Facilitador em constelação institucional, 59 anos, filho de imigrantes portugueses, autodidata, desenvolve atividades profissionais desde 1976 nas áreas da indústria, comércio e serviços, empresário (fundador e proprietário da Belfogões), Diretor do Incoi instituto de constelação integral, membro da Sociedade em Defesa Do Litoral Brasileiro, consultor do Lab Evoluir em sistemas de Meta modelos administrativos, apresentador do programa de TV Visão Sistêmica, fotógrafo, consultor metafísico para instituições, terapeuta alternativo em Reiki, consultor em Feng Shui, palestrante espiritualista, estudioso das filosofias orientais, estudioso em sistemas de alimentação, alem de consultor e incentivador na criação de várias instituições, é ativista sócio-ambiental, comunicador na rádio Mundial – programa Tal Pai Tal Filha e voluntário em Arautos do espiritismo;

Colaboração: Jéssica Mayara (@jessica.mjornalista): jornalista, atua com produção de conteúdo para redes sociais e blogs, e assessoria de comunicação!

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