Por que os médicos não sabem tratar a menopausa?

De cada 4 mulheres que procuram ajuda por sintomas da menopausa, 3 não recebem tratamento adequado. Essa é a conclusão de uma pesquisa da Universidade Yale com mais de 500.000 mulheres em várias fases da menopausa. E entre aquelas que têm sintomas significativos, só 60% procuram por atendimento médico – quase metade nem chega a buscar ajuda médica, sofrendo desnecessariamente.

Segundo a North American Menopause Society (NAMS), 75% das mulheres experimentam algum tipo de desconforto na menopausa e, para 20% destas, os sintomas são intensos o suficiente para interferir em quase todos os aspectos significativos de suas vidas: sono, trabalho e relacionamentos. Entretanto, a maioria das faculdades de medicina e programas de residência americanos não ensina aos futuros médicos sobre a menopausa.

Uma pesquisa recente revelou que só 20% dos programas de residência em obstetrícia e ginecologia dos EUA oferecem algum tipo de treinamento em menopausa e, na maioria das vezes, os cursos são opcionais. Sem formação adequada, muitos profissionais normalizam o período e aceitam que “é normal da idade e não há nada a se fazer”.

A ginecologista Joann Pinkerton, diretora executiva da NAMS pesquisou mais de 1.000 profissionais da área médica sobre seu conhecimento em terapia de reposição hormonal (TRH) para sintomas da menopausa. De acordo com os resultados da pesquisa, apenas 57% dos médicos estavam atualizados em suas informações.

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Em outro estudo desenvolvido pelo Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Escola de Medicina Johns Hopkins, foram enviados questionários aos diretores de 258 programas de residência em obstetrícia e ginecologia nos EUA. As pesquisas revelaram que menos da metade dos residentes do último ano se sentiam bem atualizados em osteoporose, essencial para o manejo da menopausa e para evitar fraturas e quedas podem causar morte prematura em mulheres.

Ainda, quase dois terços dos residentes em obstetrícia e ginecologia relataram não se sentirem suficientemente informados sobre a conexão entre menopausa e doença cardiovascular, o que é especialmente surpreendente, considerando que o ataque cardíaco é a principal causa de morte em mulheres mais velhas.

“A realidade é que tratar a menopausa pode não ser tão lucrativo quanto realizar partos ou cirurgias”, afirma Tara Allmen, ginecologista que passou para a medicina da meia-idade após uma década na sala de parto, e autora do livro “Menopause Confidential”. “A geração mais jovem de médicos tem menos interesse na população em envelhecimento, porque além dos problemas exigirem mais tempo, também oferecem menos remuneração.”

No Brasil, os problemas são os mesmos: a maioria das mulheres desconhece os sintomas da menopausa, e mesmo entre aquelas que sofrem com sintomas intensos, muitas nem chegam a procurar ajuda. Os médicos têm uma formação muito superficial nessa área e não adquirem quase nenhuma experiência durante a residência médica, e com isso deixam de oferecer a terapia hormonal a muitas mulheres que se beneficiariam dela.

Fonte: AARP

https://www.aarp.org/health/conditions-treatments/info-2018/menopause-symptoms-doctors-relief-treatment.html ; com colaboração de Ollivia Frederigue

Por Dr. Igor Padovesi

Ginecologista formado e pós-graduado pela USP, médico do Hospital Albert Einstein, membro da North American Menopause Society (NAMS) e da International Menopause Society (IMS), e criador do projeto Menopausa Com Ciência.

Site: igorpadovesi.com.br / menopausacomciencia.com.br

Instagram: @dr.igorpadovesi / @menopausacomciencia

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