“Não era amor… Era cilada!”

A relação abusiva pode ser conceituada como uma relação de poder, de controle, sob a forma de ameaça e violência, física ou psicológica, explícita ou não, voltada para a desqualificação do outro e exercida sob a forma perversa. Para identificar esse tipo de relação e seus sinais, somos desafiados a todo o instante a refletir sobre nossas escolhas diante das várias relações que criamos, sejam elas de amizade, trabalho, familiares ou amorosas.

Exemplos dos sinais desse tipo de relação mais comuns são:

a) agressões físicas e verbais – o(a) agressor (a) convence a vítima de que ela merece a agressão e ocorrem após o aprisionamento psicológico, iniciando-se de forma suave, podendo chegar à violência. Em geral as agressões são acompanhadas de pedido de desculpas convincentes e frequentes;

b) mudanças súbitas de humor – aquele que agride possui a capacidade de agredir em alguns momentos e de ser amável em outros. A finalidade é de confundir a vítima para que se sinta culpada por suas alterações de comportamento. A vítima cria expectativa de ser bem tratada, nos momentos de amabilidade;

c) ataque ao patrimônio;

d) perda da liberdade do direito de ir e vir – ocorre o controle dos horários da vítima, de suas conexões, suas decisões);

e) competição: a ascensão do outro é insuportável para o agressor. Ele não deseja o crescimento do outro e se não o(a) desencoraja, impede e questiona as intenções da vítima, quando essa demonstra o desejo de evolução;

f) ataque à autoestima – o(a) abusador(a) deprecia constantemente a outra pessoa em suas habilidades, talento, aparência, etc., com o objetivo de deixar ela insegura sobre seu valor e capacidades;

g) isolamento social – o(a) abusador(a) convence a pessoa de que ela só tem a ele(a) e gradativamente induz a que ela se afaste de todos e de tudo. A vítima passa a acreditar que o(a) abusador(a) é “a única pessoa que existe no mundo para ela”;

h) transferência de responsabilidade – o abusador(a) tem a capacidade de confundir a vítima quanto à sua lucidez em perceber as situações na medida em que não assume a responsabilidade sobre suas ações e reações e transfere para a vítima toda a responsabilidade, nos momentos turbulentos;

Como detectar uma relação abusiva - A mente é maravilhosa

i) chantagem emocional – o(a) abusador(a) manipula a vítima com ameaças diretas e indiretas, que geram intimidações veladas e explícitas.

Ressalte-se que em verdade somos as relações que travamos e muitas vezes nos deparamos vivendo as histórias que não são nossas, por acreditarmos que o “outro” nos completa. O mito da “metade da laranja” ou da “tampa da panela” e que remete ao “Banquete de Platão”, no qual encontraremos alguém que parece ser nossa “outra metade”, só encontra eco na alteridade, ou seja, existe um outro que é diferente de mim e a partir daí posso me relacionar com o outro mantendo minha individualidade e intimidade, fazendo a distinção do que é meu e o que é do outro. Relações simbióticas não se configuram como saudáveis, pois há o risco de que haja submissão às “cláusulas” estipuladas pelo outro.

Importante saber de que nos nutrimos em relação, se há equilíbrio entre dar e receber, se sabemos identificar o amor ou se há reprodução de padrões de comportamento (crenças familiares, sociais), se se está vivendo uma relação “eu-tu” ou “eu-isso”, se é possível identificar quem somos na relação e o que o outro significa para nós e refletir: se não me conheço, o que desejo viver e experimentar nessa relação aqui e agora? Se percebemos os sinais que o corpo emite de que algo não vai bem, será possível soltar as histórias vividas em um ciclo vicioso passando ao ciclo virtuoso, ou seja, é importante que haja abertura e disponibilidade para mudar, tolerância e paciência com o processo e generosidade consigo mesmo. Frise-se a importância de que, caso não se consiga chegar ao equilíbrio desejado, a vítima busque ajuda terapêutica profissional, a fim de mergulhar dentro de si, visando seu autoconhecimento e aprimoramento pessoal, o que abrirá caminho para escolhas mais livres e saudáveis.

PATRICIA SAAVEDRA

CRP-RJ 05/48557

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Facebook: Patricia Saavedra

Graduação e Pós-graduada em Direito
Defensora Pública do Estado do Rio de Janeiro aposentada
Psicóloga Clínica atuando em consultório (RJ) e “on line”
Gestalt-terapeuta
Formação em Psicologia Infantil, adolescente, casal e família
Facilitadora em Constelação Familiar, em workshop, individual e “on line”
Capacitação em arteterapia, luto, suicídio, autismo e mediação
Capacitação em psicologia transpessoal
Capacitação em Cuidados Paliativos
Palestrante e professora em cursos jurídicos e de psicologia
Autora de artigo: “Os efeitos da falta de consciência da normose na pós modernidade.”
Co-autora na revista Psicologia e Civilidade 

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